sexta-feira, 16 de outubro de 2009

sem amor, nem abrigo

 
"Sem amor, sem abrigo" Numa acção de protesto, um indivíduo colocou esta manhã um cartaz com a inscrição "Sem amor, sem abrigo" na Ponte 25 de Abril, em Lisboa.
Jornal Público, 21 de Dezembro de 2006

Olhemos o que se passa na maior parte das cidades. Há uma variedade de pessoas que se encontram temporariamente na rua. O errante, o sem-abrigo, o mendigo, o "clochard", o vagabundo, o sem domicílio estão omnipresentes nos aglomerados urbanos desde os tempos mais remotos. As sociedades desenvolvidas, ainda hoje, carburam de uma forma industrializada. Cada coisa no seu lugar, cada pessoa no seu posto, cada instituição na sua missão específica, cada cidadão na sua casa. Somos adeptos cegos de duas regras de vida em sociedade: habitar e trabalhar. O sem-abrigo ocupa o espaço de outra forma e muito mais passivamente o seu tempo. Nos espaços públicos, nos seus percursos, parece dirigir-se para lado nenhum, em longas horas vazias nunca fazer nada, ou servir ninguém. Por isso, torna-se aos olhos da maioria um objecto de agitação e um ser incómodo.

O sem-abrigo é um"corpo estranho no caminho", mas tem “alma”, uma dinâmica interior, feita de recordações, sentimentos, mágoas, desejos, paixões e mesmo expectativas. Tem direitos, que esquecemos, como o de utilizar os espaços públicos, de deambular nas ruas, de se sentar nos parques, de abordar e falar aos passeantes, de se sentar num estabelecimento para tomar um café ou de gritar pedindo socorro.

Talvez por tudo isto ou por razões que me passam ao lado, numa acção de protesto um indivíduo colocou ontem de manhã um cartaz com a inscrição "Sem amor, sem abrigo" na Ponte 25 de Abril, em Lisboa. Não é ficção, nem de poesia se trata, aconteceu…



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