Ser sem-abrigo, significa estar privada(o) de alguns dos direitos que a democracia participativa prevê estarem ao alcance de toda(o)s a(o)s cidadãs e cidadãos remetendo-os assim para uma situação de pobreza e exclusão difícil de inverter no sentido da inclusão social, explica o estudo, para descrever as «vítimas de pobreza extrema».
O estudo da AMI afirma que as mulheres sem-abrigo de Lisboa são mais jovens do que os homens, estão desempregadas ou têm trabalhos sem descontos para a Segurança Social e aponta para uma condição de «dupla discriminação».
«A pobreza coloca-as numa situação de dupla discriminação em relação à maioria das mulheres», refere o trabalho a que SexoForte.net teve acesso. E sublinha que «na vida destas mulheres a família ou o Estado não tiveram um papel protector ou gerador de autonomia».
«Este perfil de mulher não se enquadra em nenhum modelo social», adianta o mesmo estudo da AMI, sublinhando que vivem casos de «nudez social». E adianta: «Ela é vítima de pobreza extrema, uma espécie de fim de linha, na vida dela quase tudo falhou».
A investigadora Ana Ferreira Martins, da Fundação AMI, desenvolveu este estudo, com o qual venceu o Prémio Municipal Madalena Barbosa, de Promoção da Igualdade de Género.
Ana Ferreira Martins ouviu utentes dos centros da AMI de Lisboa, em Chelas e Olaias, entre Janeiro de 2003 e Dezembro de 2006, e confirmou as conclusões de trabalhos anteriores segundo os quais as mulheres são minoritárias na população de rua: no período em análise, os serviços da AMI foram procurados por numerosos utentes, sendo que 20 por cento destes eram mulheres.
O número mais elevado das que recorrem a esta organização tem entre 21 e 39 anos. Os homens que pedem assistência têm, maioritariamente, entre 30 e 49 anos.
As mulheres sem-abrigo apresentam percentagens ligeiramente superiores em relação aos homens de integração profissional, sobretudo em tarefas pontuais de limpeza, que estão fora do mercado de trabalho legal e sem efectuar quaisquer descontos para a Segurança Social.
A investigação de Ana Ferreira Martins alarga o conhecimento sobre a problemática das mulheres sem-abrigo em Lisboa, relaciona as questões de género nos sem-abrigo com as causas e efeitos sociais que conduzem à situação de sem abrigo. Além disso, «compreende uma abordagem biopsicosocial das variáveis implicadas no fenómeno e o seu relacionamento com factores geradores de inclusão e de exclusão social.
Na Europa
Em toda a Europa este fenómeno é reconhecido como um grave problema social. Algumas das causas de ser sem abrigo são conhecidas e comuns a ambos os sexos.
Segundo a AMI, «na quarta revisão de políticas dirigidas para o problema do(a)s sem-abrigo na Europa, realizado pelo Observatório on Homelessness e editado pela Federação Europeia das Associações Nacionais que Trabalham com Sem-Abrigo (FEANTSA), em 2006, falou-se no fenómeno social do(a)s sem-abrigo como sendo pluridimencional e que requer uma abordagem complexa».
O trabalho especifica que «para que esta seja adequada temos que recorrer a diferentes medidas de variados domínios políticos, habitação, saúde (particularmente saúde mental), emprego, formação, justiça e protecção social, de modo integrado e inter-relacionado». E acrescenta que o leque de medidas é muito vasto, passando pelos serviços ou mecanismos de emergência (acomodação temporária, equipas móveis de rua) a um trabalho em rede entre os cuidados de saúde, psiquiatria e instituições de formação, autoridades públicas, assim como as ONG (Organizações Não Governamentais) e outras que contribuem para a integração social».
Fonte: SexoForte.net
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